quarta-feira, novembro 15, 2006
M.A.
A luz podia ser como se fosse sempre Junho, se soubessemos editar assim os dias: cheios de pressa e sem tempos mortos (porque passeios solitários em longos corredores e por entre jardins nunca mataram ninguém - com a possível excepção de Rilke), com as músicas todas, iPods e sapatilhas; podíamos continuar de carro por uma estrada fora, sem nunca precisar de conversar; nem sequer era preciso uma história, porque afinal há tão poucas e são se calhar sempre as mesmas, era só mesmo uma luz amarela, como se fosse sempre Junho e cinco e meia da manhã
quarta-feira, novembro 08, 2006
desenvolvimento linear misto
Como nem tudo pode ser piano, também há que chegar ao trabalho: voltaram a mudar o percurso do autocarro. Durante os últimos meses entrava pela porta da frente (ou saía, dependendo do ponto de vista), com o último troço de Fernão Magalhães cheio de árvores. Verifiquei quotidianamente o amadurecimento do verde das árvores, nos últimos dias admirava-lhes os vermelhos; e ia seguindo o desenvolvimento das estações nessas centenas de metros. Regressei agora a Costa Cabral, estreito canal onde tudo acontece desde há séculos: conheço o suficiente da sua lógica para lhe apreciar a justaposição de tipo-morfologias, com o que não me conformo é com o tratamento e intensidade de uso que lhe é dado; com isso e com a falta que daqui em diante me farão as árvores.
terça-feira, novembro 07, 2006
Nem tudo pode ser tango: há também piano em frases surpreendentemente curtas e incisivas. (Será que é o que acontece quando esperamos algo de alguém?) Não fosse ter lido acerca das novas regras que Keith Jarrett se impôs a si mesmo nas apresentações a solo (regras ou liberdades, podemos discutir o assunto) e diria que era eu mesma a projectar-me no discurso, a lê-lo assim, directo e breve, sem demoradas e exaustivas explicações, haiku de sons emaranhados ou absolutamente dançáveis – porque afinal de contas por mais que falemos nunca conseguimos dar-nos a conhecer por completo. Horas e horas para chegarmos a isto: posso não reconhecer Pink Floyd quando os ouço mas pelo menos teremos sempre Keith Jarrett.
domingo, novembro 05, 2006
will I see you tonight
na voz obviamente enferrujada de Tom Waits, tango às quatro da manhã na sala no quarto nas paredes e sussurras-me a música ao ouvido,
so send me off to bed for ever more
segunda-feira, outubro 30, 2006
if anyone needs to ask then I won't
Dezanove e quinze e casa cheia, m. sobe as escadas e falamos cinco minutos até chamarem o foyer à sala; encontramos C., colega de faculdade a quem não via há dois anos. Uma pergunta apenas (lançada sem aviso, é de notar) faz-nos apressar o passo quase sem resposta, faces coradas desmascaradas, e para distrair os sorrisos nervosos encho os tempos de palavras e das notas do barroco - tanta talha dourada só para fugir às perguntas difíceis, enquanto lá por cima nos sobrevoam os anjos papudos de Rafael, troçando.
sexta-feira, outubro 27, 2006
passa a chuva passa a melancolia - já se adivinhava no céu de ontem, nuvens cor-de-rosa antes do céu ficar cada vez mais azul (hei-de procurar as fotos antigas que tinha), já se adivinhava no concerto que de barroco napolitano se transformou em tarantella (a Casa da Música repentinamente taberna), adivinhava-se na casa de ferragens, também ela tasca, aberta para lá das dez da noite, na luz no átrio do Museu Soares dos Reis; adivinhava-se em tua casa, à procura de pó nos armários, a imaginar puxadores nas gavetas, sem me lembrar sequer dos tempos em que me sentia redonda completa contentora serena mãe
quarta-feira, outubro 25, 2006
escolinha
É oficial: acabei de comprar mais um ano. Ou meio, ou um semestre. É oficial e sem desculpas, tudo pesado (o grau académico quase obsoleto, o tempo a faltar-me para o que mais quero, a razão não completamente definida) volto à escola por mais um ano em visitas esporádicas e breves até à prova final. Havemos de nos ver pouco por aí, já sei; e no fim há-de ter valido (ou não) a pena.
quinta-feira, outubro 19, 2006
yo @salamanca
Dois dias apenas em Salamanca (eram originalmente três) ou seja, noutro mundo: foi preciso passar a fronteira (a rede de telemóvel a estender-se pelo território dentro) para saber que havia gente fechada num teatro há dois dias; o céu azul foi sendo substituído pelo temporal, ao mesmo ritmo que os carros abrandavam atrás dos acidentes na auto-estrada. Ao fim do dia (a tarde passada em frente ao computador, como em outro dia qualquer) peguei no Andante e fui para casa, como se fizesse gestos que há muito não repetia.
quinta-feira, outubro 12, 2006
dias longos
Tenho tido dias longos, apesar do pôr do sol ser cada vez mais cedo. Na verdade, não tenho visto muito o sol, ultimamente. Uma comunicação (e três dias fora do escritório) dão nisto: chegar a casa todos os dias depois da meia-noite, umas horas de sono a menos, filmes a chegarem (e a saírem?) sem ter oportunidade de os ver e cinco minutos de vida pessoal despachados por telefone. Felizmente acabei a tempo a camisola, que dará jeito nas noites – parece-me que frias – de Salamanca.
quinta-feira, outubro 05, 2006
domingo, setembro 24, 2006
fall (to)
E para celebrar a entrada da estação, que se anunciou sem cerimónias, passei o fim de semana a chá e antibióticos. Há que ser indulgente com os caprichos do tempo.
fall
Outono em pleno, o que quer dizer antes de mais, que a noite ganha terreno. Começo a preparar-me: mangas da camisola quase prontas, a roupa mais quente à mão. Pelas frinchas das janelas continua a passar o vento. Algo me diz, porém, que o Inverno não será tão frio nem escuro este ano.
domingo, setembro 17, 2006
em tua casa sonho mais
Ficava acordada durante horas, sem outro aparente motivo que não fosse a respiração ao meu lado. Sonhava quase invariavelmente com quartos, com o sono que me escapava; levantava-me para fechar a janela, talvez fosse o contínuo zumbir na auto-estrada que não me deixasse dormir.
Agora a inquietação desce como a temperatura em Setembro.
Agora a inquietação desce como a temperatura em Setembro.
domingo, setembro 10, 2006
when in rome
Duas semanas, que foram até agora uma espécie de prolongamento do intervalo. Não é a primeira vez que o sinto: o mais simples é retomar as responsabilidades do trabalho, equilibrar o tempo que resta é que tem qualquer coisa de arte. Peguei de novo nas agulhas, aprendi quase todas as regras do ténis (muito embora seja muito mais divertido de ver na televisão do que futebol, os comentadores são igualmente inanes) e já corro vinte e cinco minutos seguidos.
Só agora sinto que daqui em diante é que vai ser a sério.
sábado, agosto 26, 2006
segunda-feira, agosto 21, 2006
- E Amesterdam?
- Acabou em Madrid, uma caña na Calle de Cavas Bajas feita discoteca depois de prestadas as devidas homenagens à Plaza Mayor, meia noite e trinta graus. Tinha acordado com chuva, o céu carregado a manhã toda. Mas ao levantarmos o avião sobrevoou ainda Amesterdão, e já nao chovia. Não foi muito tempo: dez, quinze segundos a vê-la de cima até entrarmos nas nuvens; uma bela maneira de me despedir.
- De que gostaste mais?
- Da minha bicicleta.
quarta-feira, agosto 16, 2006
sexta-feira, agosto 04, 2006
segundas, quartas e sextas
A partir de hoje não estarei ocupada segundas, quartas e sextas das sete às oito e vinte.
Ao fim de oito anos parecerá talvez estranho; se não tanto agora. Pelo menos em Setembro, quando regressar às rotinas. Foram estas horas que me tornaram (quase) irreconhecível (agora eu digo: «sou tão simples»; e tu respondes: «nunca pensei ouvir-te dizer-te isso»). As despedidas de hoje marcam tanto o fim de uma era como o início de qualquer coisa; entretanto faltam apenas dois dias para a minha viagem, espécie de lua-de-mel comigo mesma.
Ao fim de oito anos parecerá talvez estranho; se não tanto agora. Pelo menos em Setembro, quando regressar às rotinas. Foram estas horas que me tornaram (quase) irreconhecível (agora eu digo: «sou tão simples»; e tu respondes: «nunca pensei ouvir-te dizer-te isso»). As despedidas de hoje marcam tanto o fim de uma era como o início de qualquer coisa; entretanto faltam apenas dois dias para a minha viagem, espécie de lua-de-mel comigo mesma.
domingo, julho 30, 2006
vacation planning
Bilhete de avião já tenho; reserva no hotel também. (Bem no centro da Damrak, entre a Centraal Station e a Dam.) Já tenho o guia para planear (e para me ajudar a aguentar os dias que faltam) e um monte de recomendações. Desde quinta feira que o gozo da antecipação tomou conta de mim; gozo e ansiedade. É a primeira vez que faço uma viagem sozinha, em escolha própria e sem condicionamento. O ano passado, em Londres, serviu como aquecimento: a Joana estava lá para me receber de braços abertos.
Ir a Amesterdão desta forma é muito mais do que uma simples viagem; é também uma espécie de emancipação.
sexta-feira, julho 28, 2006
bestemming amsterdam
quinta-feira, julho 20, 2006
have a nice weekend
The Clash, Train in Vain (Stand by Me)
Em caso de neura, limpar a casa e ouvir The Clash. Resulta sempre.
gelo
Não estão os 35º do fim de semana; no entanto só quero enfiar-me em gelo. (Há um incêndio a devastar tudo em redor - ou é só o cansaço acumulado a fazer-me fechar os olhos?) E enquanto pergunto encontro em mim a resposta e descanso.
quinta-feira, julho 13, 2006
fome
E agora, fartura: no sábado Three Times (cortesia dias felizes) em Vila do Conde ou Segunda de Manhã no largo da Igreja dos Grilos; domingo Flowers of Shangai e segunda Maria Madalena.
quinta-feira, julho 06, 2006
memória
As memórias são coisas estranhas: editamo-las como falsas fotografias em que queremos acreditar, ou deixamo-las latentes e subterrâneas durante muito tempo. Eu, por exemplo, descobri em mim memórias tuas que não sabia que tinha: chegares uma vez debaixo de chuva para me ajudares a escolher uns óculos; ou antes, muito antes (não sabia ainda o teu nome) ver-te desenhar, a mão nunca apoiada no papel, sentado à minha frente nas mesas grandes da biblioteca velha da faculdade.
sexta-feira, junho 30, 2006
fim de semana
De partida para o sopé da Serra: hora marcada entre as oito e meia e a uma da manhã. Uma lista de coisas para levar: a Ilíada ou Ruskin? Saco-cama ou lençóis? (Onde me vais deixar a dormir?) Actividades programadas: futebol, Carcassonne e uma reunião de obra com cinco arquitectos a discutir um muro. De volta segunda-feira.
quarta-feira, junho 21, 2006
solstício, outra vez
o céu a esta hora está azul, escuro; o melhor do solstício é o prolongamento desta cor. lá para oeste a cor é ainda mais clara. já não me lembro do sonho, e talvez não seja preciso: outras coisas como pequenos seixos vão preenchendo os espaços em branco.
terça-feira, junho 20, 2006
rol:
- Cinco lápis: dois têm a assinatura de Miró (um é de grafite e com o outro posso escrever a amarelo, verde, cor-de-rosa e lilás), um a de Picasso; outro é cinza escuro (e pesado), e tem escrito Museu Picasso a preto; o último é um lápis de desenho 6B.
- Um marcador de livros com uma imagem de Dona i Ocelli I, de Miró.
- Um cartaz com uma reprodução de Le Visage de la Paix, de Picasso.
- As Asas do Desejo.
- Um marcador de livros com uma imagem de Dona i Ocelli I, de Miró.
- Um cartaz com uma reprodução de Le Visage de la Paix, de Picasso.
- As Asas do Desejo.
quinta-feira, junho 08, 2006
comment
Há uma fotografia por publicar mas o Blogger não se tem mostrado muito cooperante ultimamente. O título do post deveria ser “no comment” (ou ainda: fui eu que fiz) e seria muito mais simples publicá-la do que juntar palavras para ilustrar o que têm sido os últimos dias. Não vou dizer que nada mudou, porque de certa forma continuo estupefacta com tudo o que tem acontecido. Mas ninguém – olhando de fora – poderia dizer o que mudou, ou mesmo que algo tenha sequer mudado.
O tempo das especulações passou: quando a confirmação é diferida, os murmúrios morrem por si. Por isso, o meu sorriso vive agora a coberto das palavras, e é à recusa de outrora que o devo.
O tempo das especulações passou: quando a confirmação é diferida, os murmúrios morrem por si. Por isso, o meu sorriso vive agora a coberto das palavras, e é à recusa de outrora que o devo.
segunda-feira, maio 29, 2006
rol de um dia feliz
- acordar cedo para descer o rio, sol a pino temperado por quedas e rápidos;
- (umas sandálias novas compradas em segredo por uma conspiração de colegas);
- preguiça ao fim da tarde depois de horas de esforço físico;
- uma mensagem tua, doze minutos antes da meia-noite.
- (umas sandálias novas compradas em segredo por uma conspiração de colegas);
- preguiça ao fim da tarde depois de horas de esforço físico;
- uma mensagem tua, doze minutos antes da meia-noite.
terça-feira, maio 23, 2006
terça-feira, maio 16, 2006
domingo, maio 14, 2006
É claro que aquele grãozinho virulento iria perder aos poucos a potência, iria desvanecer-se, dissolver-se em nada, ou antes, iria transforma-se numaporção de tecido identificável mas inofensiva. Neste momento, porém, bastaria uma ligeira alteração nas partículas que determinam os acontecimentos para que ela se achasse longe dali (...)
Iris Murdoch, O Bom Aprendiz
sexta-feira, maio 12, 2006
domingo, maio 07, 2006
quarta-feira, maio 03, 2006
segunda-feira, maio 01, 2006
terça-feira, abril 25, 2006
segunda-feira, abril 24, 2006
sábado, abril 22, 2006
Por vezes passa o dia inteiro sem comer. Preocupo-me - o jejum lembra-me o tempo em que brincava com traços brancos sob a pele. Perguntei-lhe se achava que era Sarah Morton. Disse-me que não, sabia perfeitamente quem era. Perguntei-lhe se imaginava que a frugalidade a tornaria capaz de voar. Sorriu. A partir de então, nesses dias, passei a verificar as janelas.
terça-feira, abril 18, 2006
green
domingo, abril 09, 2006
things to do in maiteland on a saturday night
watching a movie with a giant rabbit
or
ir para os anos 50 com uma saia rodada e uma fita no cabelo. (azul)
or
ir para os anos 50 com uma saia rodada e uma fita no cabelo. (azul)
sexta-feira, abril 07, 2006
postal ilustrado
Estou aqui há dois dias, se calhar chego antes deste postal. Mas como estou longe tenho um pretexto para escrever as coisas que não tenho oportunidade de te dizer quando aí estou – e não ter oportunidade de as dizer é já sintoma bastante. A distância ajuda e a síntese a que o tamanho do postal me obriga também. Há uma divisão entre a razão e os afectos que não me deixa ser clara; há desejos a turvarem tudo. Quis agir como se eles não existissem, mas não parece possível; não é fácil gerir o que tem acontecido – se é que se pode considerar a distância um acontecimento. Fica tudo dito no espaço que tenho – que sinto ser cada vez menos – e não espero que me dês resposta. Não espero que faças seja o que for – embora, e que fique bem claro, o deseje profundamente.
Post-scriptum: cortei o cabelo.
Post-scriptum: cortei o cabelo.
sábado, abril 01, 2006
bittersweet
Felizes encontros inesperados:
sinto os olhos manchados do cansaço e da falta de sono. Na véspera tudo em mim era tensão cromática - laranja e azul eléctrico.
Ao afastar-me do primeiro o sorriso deu lugar à incerteza; no segundo o meu silêncio ocupou o lugar do contentamento. «Quando é a nossa opaca presença física a estabelecer o contacto...» Entretanto descubro no espelho que passei alheada a muitos outros encontros inesperados. Dizem-me que tenho os olhos grandes e afinal descubro que só os uso para fitar - ao longe.
sinto os olhos manchados do cansaço e da falta de sono. Na véspera tudo em mim era tensão cromática - laranja e azul eléctrico.
Ao afastar-me do primeiro o sorriso deu lugar à incerteza; no segundo o meu silêncio ocupou o lugar do contentamento. «Quando é a nossa opaca presença física a estabelecer o contacto...» Entretanto descubro no espelho que passei alheada a muitos outros encontros inesperados. Dizem-me que tenho os olhos grandes e afinal descubro que só os uso para fitar - ao longe.
quinta-feira, março 30, 2006
segunda-feira, março 27, 2006
ilusão
(do Lat. illusione)
s. f.,
engano dos sentidos ou da inteligência;
errada interpretação de um facto;
pensamento quimérico;
coisa efémera;
utopia;
fantasia;
efeito artístico que produz ou procura produzir a impressão da realidade.
s. f.,
engano dos sentidos ou da inteligência;
errada interpretação de um facto;
pensamento quimérico;
coisa efémera;
utopia;
fantasia;
efeito artístico que produz ou procura produzir a impressão da realidade.
mudaram a cor aos dias
o que significa que vem aí o tempo dos vestidos, o sol enganador a criar quimeras e a fazer crer que tudo, mas tudo, é possível; não me engano, a Primavera tem este hábito de me derrubar sem compaixão. Pode andar escondida em cinzentos que eu conheço-lhe já os truques, sei o que anuncia, e até Setembro ou Outubro andarei seduzida pela efémera beleza das ilusões.
quinta-feira, março 16, 2006
terça-feira, março 14, 2006
uma no cravo, outra na ferradura
Por muito sol que faça, fotografias destas continuam a assustar-me...
domingo, março 12, 2006
Beware the ides of March*
As minhas deambulações levaram-me hoje à rua onde fui, há semanas atrás, ver uma casa. A rua estava calma (é uma rua calma, com árvores, embora estas não atinjam o troço onde se localiza o prédio), pouca gente se via passar. Ao fundo, a Praça das Flores; bem perto, as vendedoras de flores à porta do Prado do Repouso. Com o sol, que devia inundar os quartos virados a Poente, todas as outras coisas recuaram em importância: as obras, o tempo necessário para elas (que não sei quanto possa ser), a idade do prédio. Os dias de sol são perigosos, fazem-nos esquecer as prudências.
*Citação de Júlio César, da crónica de João Bérnard da Costa, no Público de hoje
sábado, março 11, 2006
terça-feira, março 07, 2006
ter razão
(pequeno ensaio sobre a democracia depois de "Good Night, and Good Luck")
O que mais me impressionou no filme não foi a reconstituição milimétrica, a filmagem sempre em set, a saturação de jazz (mas não te preocupes - não era um musical), ou sequer a inteligente utilização das "verdadeiras" imagens televisivas (como se tudo não fosse ficção); nem as múltiplas leituras do filme, desde o medo a condenar direitos que se consideram inalienáveis à derrocada da caixa que mudou o mundo; não foi o olhar de David Strathairn ou a forma como dizia a frase final (e que não consegui perceber se de um pessimismo ou optimismo desesperado); o que mais me impressionou e chocou foi que no fim, até um homem como William Paley, que não abandonou Murrow durante o confronto com o Senador Junior de Winsconsin, se rendeu à força mole do desejo de entretenimento e das audiências. É o que mais me assusta - que a maioria das pessoas acabe então por ter razão.
domingo, fevereiro 26, 2006
:D
Esta semana passou tão rapidamente que não me deixou tempo sequer de vir contar as boas notícias.
As boas notícias têm a ver com um quadro. Não uma tela, nada de físico; é a diferença entre poder estar doente ou não. Entre poder ser dispensada no dia seguinte ou não. E, eventualmente, entre poder ter um empréstimo para a tal casa - ou não. Para todos os efeitos, a partir de Fevereiro sou efectiva na empresa, tenho direito a subsídios de refeição, a horas extraordinárias, a férias. Não tenho que me lembrar todos os meses de pagar a segurança social. Posso deixar os recibos verdes na gaveta. Por tudo o que isso significa - e pelo que diz da forma como o meu trbalho está a ser recebido - o título, ali em cima, justifica-se em absoluto.
As boas notícias têm a ver com um quadro. Não uma tela, nada de físico; é a diferença entre poder estar doente ou não. Entre poder ser dispensada no dia seguinte ou não. E, eventualmente, entre poder ter um empréstimo para a tal casa - ou não. Para todos os efeitos, a partir de Fevereiro sou efectiva na empresa, tenho direito a subsídios de refeição, a horas extraordinárias, a férias. Não tenho que me lembrar todos os meses de pagar a segurança social. Posso deixar os recibos verdes na gaveta. Por tudo o que isso significa - e pelo que diz da forma como o meu trbalho está a ser recebido - o título, ali em cima, justifica-se em absoluto.
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
terça-feira, fevereiro 14, 2006
domingo, fevereiro 12, 2006
corners of my home
Não é bem um canto (que em minha casa quase não os há), mas antes um lugar onde a luz cai. Pelo menos agora, que os dias começam a conhecer-se e o sol a passear num ângulo mais alto, e a sala deixa de ter a melancolia das tardes de inverno. Quase não sinto a urgência de encontrar outra casa.
Other corners here
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
uma casa
Procurar uma casa é tarefa demorada; já o sabia e esse desgaste era uma das maiores resistências quando chegava a hora de tomar a decisão. Ainda agora comecei e já questiono a minha persistência: mesmo com todos os filtros do mundo as visitas acabam sempre em grandes desilusões. Só uma me interessou a ponto de ter que apelar a toda a minha racionalidade para não a comprar: era um sexto andar na Rua da Boavista, sem vizinhos e com muito sol. Tinha a cozinha num armário. Outra pela qual quase me apaixonei (e apenas em fotografia): um mezzanino a fazer de quarto, um terraço, uma clarabóia enorme. Era uma casa, casa mesmo, com solo debaixo de mim, não uma fracção. Está reservada e esforço-me por lhe elencar os defeitos: três metros e meio de largura, pouco mais de 50 de área. Ainda sim consigo perceber o que me move: a luz.
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
árvores
No caminho para o trabalho há apenas uma magnólia tardia; tenho perdido o fulgor das árvores. Contento-te com as camélias frágeis a enfeitar os topos dos muros e com as manhãs de domingo pelas ruas mais bonitas do Porto, até erguer os olhos e ficar - uma vez mais - assombrada pala estranha beleza das grandes flores brancas nos ramos nus.
domingo, fevereiro 05, 2006
domingo
Luz e sombra, os caminhos de Serralves quase vazios. (Nos ouvidos: Forbidden Colours, Sakamoto). Entre Thomas Hirschhorn e Ignasi Aballí vai um mundo de distância, medido pela quantidade de objectos. Nos jardins reencontro Ângelo de Sousa, e acabo por não fazer a via sacra de Richard Serra para te encontrar à entrada. O resto - é sol.
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
hábitos
Apanhada pela Sónia em cinco hábitos estranhos:
- comer massa crua;
- arrumar a louça na banca ANTES de a lavar;
- ficar meia hora na cama antes de me levantar. Isto obriga-me a pôr o despertador um bocado mais cedo do que o absolutamente necessário; para não estar a desligá-lo de nove em nove minutos passei a usar a versão rádio (e a ligar o despertador no telemóvel). O cúmulo disto é que já cheguei a ouvir uma missa quase inteira antes de estender o braço para desligar a coisa;
- escrever um monte de coisas na agenda do género "ir ao supermercado" ou "passar roupa" (a lista de supermercado escrevo-a noutro caderno). Só pode significar que sou ou muito distraída ou muito preguiçosa - depois de ver o ponto anterior, acho que deve ser mesmo preguiça;
- ir para a cama às onze da noite (e no inverno, com uma botija de água quente).
Continua:
Aurelia
Saudades do Futuro
Uma vida por escrever
Livro em Flor
Tricot e tal
- comer massa crua;
- arrumar a louça na banca ANTES de a lavar;
- ficar meia hora na cama antes de me levantar. Isto obriga-me a pôr o despertador um bocado mais cedo do que o absolutamente necessário; para não estar a desligá-lo de nove em nove minutos passei a usar a versão rádio (e a ligar o despertador no telemóvel). O cúmulo disto é que já cheguei a ouvir uma missa quase inteira antes de estender o braço para desligar a coisa;
- escrever um monte de coisas na agenda do género "ir ao supermercado" ou "passar roupa" (a lista de supermercado escrevo-a noutro caderno). Só pode significar que sou ou muito distraída ou muito preguiçosa - depois de ver o ponto anterior, acho que deve ser mesmo preguiça;
- ir para a cama às onze da noite (e no inverno, com uma botija de água quente).
Continua:
Aurelia
Saudades do Futuro
Uma vida por escrever
Livro em Flor
Tricot e tal
segunda-feira, janeiro 30, 2006
domingo, janeiro 29, 2006
hurry up spring warmers
Dizem que está frio lá fora, por isso nem para um café saí: acabei bem depressa as minhas novas mitaines e estou a escrever apenas com as pontas dos dedos de fora. O aquecedor está ligado há horas e mesmo assim está frio. Outra coisa que eu não quero na minha próxima casa: prédios a taparem o sol (e a estragarem-me as fotografias).
sábado, janeiro 28, 2006
house hunt
Já imaginava que a primeira casa que ia ver não seria a última. Estas visitas vão obrigar-me a pensar o que quero de uma casa. Luz; espaço, algum (mais do que o que agora tenho); transportes perto que o carro é sempre uma decisão adiada. Um café, uma padaria, um quiosque nas redondezas. O que não quero: marquises, tijoleira, cilindro. Uma vista para as traseiras de outros prédios; um terraço para o interior de um quarteirão. Não sei se encontrarei a melhor casa (já que a casa dos meus sonhos nem a vou procurar) e espero não me manter eternamente à espera dela; às vezes o melhor nunca chega, é só uma desculpa para não avançar.
sexta-feira, janeiro 27, 2006
deve haver um sítio onde nascem as decisões
Começo a deitar contas à vida; a imaginar as cores de paredes que nem sei sequer ainda onde são, a pensar em coisas práticas e comezinhas (ou nem tanto): um forno para bolos (ou para os scones da Joana), sofá cama para as visitas, espaço para conversas; o sofá em frente à janela, a televisão pequena a um canto. Luz. Deve haver um sítio onde estas coisas se começam a formar, a mim acontecem-me no escuro, quando ando mais calada, metida comigo mesma; quando me começam a perguntar o que tenho.
terça-feira, janeiro 24, 2006
I do not wish him to great, but merely to be lucky
Já fui ver o filme do Woody Allen. Irritou-me. A mim não: nem sequer me incomodou a ironia de ver os maus actos bem recompensados. O que se faz não tem por fim a recompensa (seremos porventura focas amestradas?) e o o resto é pouco menos do que caos.
terça-feira, janeiro 17, 2006
«I loved Ophelia, forty thousand brothers
Could not with all their quantity of love
Make up my sum...»
(William Shakespeare's Hamlet, Act V, Scene 1)
Ophelia, de John Everett Millais
Fonte: The Ophelia Page
Could not with all their quantity of love
Make up my sum...»
(William Shakespeare's Hamlet, Act V, Scene 1)
Ophelia, de John Everett Millais
Fonte: The Ophelia Page
segunda-feira, janeiro 16, 2006
coffee break
domingo, janeiro 15, 2006
terça-feira, janeiro 10, 2006
new year's resolutions
(ou objectivos, ou...)
Não tenho o hábito de fazer resoluções de ano novo, ou sequer de fazer balanços. Quanto aos desejos, estão espalhados por todos os dias. Mas quando vi esta lista pensei em fazer uma para mim: como uma espécie de âncora a coisas mais largas do que as tarefas que me ocupam quotidianamente. Comecei a escrevê-la na primeira página do ano, e é um work in progress: tenho a certeza que riscarei coisas e acrescentarei muitas mais. Coisas para melhorar o ano?
quinta-feira, janeiro 05, 2006
segunda-feira, janeiro 02, 2006
domingo, janeiro 01, 2006
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