quarta-feira, novembro 15, 2006

M.A.


A luz podia ser como se fosse sempre Junho, se soubessemos editar assim os dias: cheios de pressa e sem tempos mortos (porque passeios solitários em longos corredores e por entre jardins nunca mataram ninguém - com a possível excepção de Rilke), com as músicas todas, iPods e sapatilhas; podíamos continuar de carro por uma estrada fora, sem nunca precisar de conversar; nem sequer era preciso uma história, porque afinal há tão poucas e são se calhar sempre as mesmas, era só mesmo uma luz amarela, como se fosse sempre Junho e cinco e meia da manhã

quarta-feira, novembro 08, 2006

desenvolvimento linear misto

Como nem tudo pode ser piano, também há que chegar ao trabalho: voltaram a mudar o percurso do autocarro. Durante os últimos meses entrava pela porta da frente (ou saía, dependendo do ponto de vista), com o último troço de Fernão Magalhães cheio de árvores. Verifiquei quotidianamente o amadurecimento do verde das árvores, nos últimos dias admirava-lhes os vermelhos; e ia seguindo o desenvolvimento das estações nessas centenas de metros. Regressei agora a Costa Cabral, estreito canal onde tudo acontece desde há séculos: conheço o suficiente da sua lógica para lhe apreciar a justaposição de tipo-morfologias, com o que não me conformo é com o tratamento e intensidade de uso que lhe é dado; com isso e com a falta que daqui em diante me farão as árvores.

terça-feira, novembro 07, 2006



Nem tudo pode ser tango: há também piano em frases surpreendentemente curtas e incisivas. (Será que é o que acontece quando esperamos algo de alguém?) Não fosse ter lido acerca das novas regras que Keith Jarrett se impôs a si mesmo nas apresentações a solo (regras ou liberdades, podemos discutir o assunto) e diria que era eu mesma a projectar-me no discurso, a lê-lo assim, directo e breve, sem demoradas e exaustivas explicações, haiku de sons emaranhados ou absolutamente dançáveis – porque afinal de contas por mais que falemos nunca conseguimos dar-nos a conhecer por completo. Horas e horas para chegarmos a isto: posso não reconhecer Pink Floyd quando os ouço mas pelo menos teremos sempre Keith Jarrett.

domingo, novembro 05, 2006

will I see you tonight


na voz obviamente enferrujada de Tom Waits, tango às quatro da manhã na sala no quarto nas paredes e sussurras-me a música ao ouvido,
so send me off to bed for ever more

segunda-feira, outubro 30, 2006

if anyone needs to ask then I won't



Dezanove e quinze e casa cheia, m. sobe as escadas e falamos cinco minutos até chamarem o foyer à sala; encontramos C., colega de faculdade a quem não via há dois anos. Uma pergunta apenas (lançada sem aviso, é de notar) faz-nos apressar o passo quase sem resposta, faces coradas desmascaradas, e para distrair os sorrisos nervosos encho os tempos de palavras e das notas do barroco - tanta talha dourada só para fugir às perguntas difíceis, enquanto lá por cima nos sobrevoam os anjos papudos de Rafael, troçando.

sexta-feira, outubro 27, 2006

everything's different out here

passa a chuva passa a melancolia - já se adivinhava no céu de ontem, nuvens cor-de-rosa antes do céu ficar cada vez mais azul (hei-de procurar as fotos antigas que tinha), já se adivinhava no concerto que de barroco napolitano se transformou em tarantella (a Casa da Música repentinamente taberna), adivinhava-se na casa de ferragens, também ela tasca, aberta para lá das dez da noite, na luz no átrio do Museu Soares dos Reis; adivinhava-se em tua casa, à procura de pó nos armários, a imaginar puxadores nas gavetas, sem me lembrar sequer dos tempos em que me sentia redonda completa contentora serena mãe

quarta-feira, outubro 25, 2006

e tudo o que eu quero


All I Want Is You (Live from Slane Castle)

escolinha



É oficial: acabei de comprar mais um ano. Ou meio, ou um semestre. É oficial e sem desculpas, tudo pesado (o grau académico quase obsoleto, o tempo a faltar-me para o que mais quero, a razão não completamente definida) volto à escola por mais um ano em visitas esporádicas e breves até à prova final. Havemos de nos ver pouco por aí, já sei; e no fim há-de ter valido (ou não) a pena.

quinta-feira, outubro 19, 2006

yo @salamanca


Dois dias apenas em Salamanca (eram originalmente três) ou seja, noutro mundo: foi preciso passar a fronteira (a rede de telemóvel a estender-se pelo território dentro) para saber que havia gente fechada num teatro há dois dias; o céu azul foi sendo substituído pelo temporal, ao mesmo ritmo que os carros abrandavam atrás dos acidentes na auto-estrada. Ao fim do dia (a tarde passada em frente ao computador, como em outro dia qualquer) peguei no Andante e fui para casa, como se fizesse gestos que há muito não repetia.

quinta-feira, outubro 12, 2006

dias longos

Tenho tido dias longos, apesar do pôr do sol ser cada vez mais cedo. Na verdade, não tenho visto muito o sol, ultimamente. Uma comunicação (e três dias fora do escritório) dão nisto: chegar a casa todos os dias depois da meia-noite, umas horas de sono a menos, filmes a chegarem (e a saírem?) sem ter oportunidade de os ver e cinco minutos de vida pessoal despachados por telefone. Felizmente acabei a tempo a camisola, que dará jeito nas noites – parece-me que frias – de Salamanca.

quinta-feira, outubro 05, 2006


Eu podia, se quisesse, fingir que era outra; ou fingir que era outra a fingir que era eu.

de passagem


- É um filme bonito.
- É.. mas é...
- ...
- Digo-te amanhã.

domingo, setembro 24, 2006

fall (to)

E para celebrar a entrada da estação, que se anunciou sem cerimónias, passei o fim de semana a chá e antibióticos. Há que ser indulgente com os caprichos do tempo.

fall

Outono em pleno, o que quer dizer antes de mais, que a noite ganha terreno. Começo a preparar-me: mangas da camisola quase prontas, a roupa mais quente à mão. Pelas frinchas das janelas continua a passar o vento. Algo me diz, porém, que o Inverno não será tão frio nem escuro este ano.

domingo, setembro 17, 2006

em tua casa sonho mais

Ficava acordada durante horas, sem outro aparente motivo que não fosse a respiração ao meu lado. Sonhava quase invariavelmente com quartos, com o sono que me escapava; levantava-me para fechar a janela, talvez fosse o contínuo zumbir na auto-estrada que não me deixasse dormir.
Agora a inquietação desce como a temperatura em Setembro.

domingo, setembro 10, 2006

when in rome



Duas semanas, que foram até agora uma espécie de prolongamento do intervalo. Não é a primeira vez que o sinto: o mais simples é retomar as responsabilidades do trabalho, equilibrar o tempo que resta é que tem qualquer coisa de arte. Peguei de novo nas agulhas, aprendi quase todas as regras do ténis (muito embora seja muito mais divertido de ver na televisão do que futebol, os comentadores são igualmente inanes) e já corro vinte e cinco minutos seguidos.
Só agora sinto que daqui em diante é que vai ser a sério.

segunda-feira, agosto 21, 2006


- E Amesterdam?
- Acabou em Madrid, uma caña na Calle de Cavas Bajas feita discoteca depois de prestadas as devidas homenagens à Plaza Mayor, meia noite e trinta graus. Tinha acordado com chuva, o céu carregado a manhã toda. Mas ao levantarmos o avião sobrevoou ainda Amesterdão, e já nao chovia. Não foi muito tempo: dez, quinze segundos a vê-la de cima até entrarmos nas nuvens; uma bela maneira de me despedir.
- De que gostaste mais?
- Da minha bicicleta.

sexta-feira, agosto 04, 2006

segundas, quartas e sextas

A partir de hoje não estarei ocupada segundas, quartas e sextas das sete às oito e vinte.
Ao fim de oito anos parecerá talvez estranho; se não tanto agora. Pelo menos em Setembro, quando regressar às rotinas. Foram estas horas que me tornaram (quase) irreconhecível (agora eu digo: «sou tão simples»; e tu respondes: «nunca pensei ouvir-te dizer-te isso»). As despedidas de hoje marcam tanto o fim de uma era como o início de qualquer coisa; entretanto faltam apenas dois dias para a minha viagem, espécie de lua-de-mel comigo mesma.

domingo, julho 30, 2006

vacation planning



Bilhete de avião já tenho; reserva no hotel também. (Bem no centro da Damrak, entre a Centraal Station e a Dam.) Já tenho o guia para planear (e para me ajudar a aguentar os dias que faltam) e um monte de recomendações. Desde quinta feira que o gozo da antecipação tomou conta de mim; gozo e ansiedade. É a primeira vez que faço uma viagem sozinha, em escolha própria e sem condicionamento. O ano passado, em Londres, serviu como aquecimento: a Joana estava lá para me receber de braços abertos.
Ir a Amesterdão desta forma é muito mais do que uma simples viagem; é também uma espécie de emancipação.

sexta-feira, julho 28, 2006

bestemming amsterdam


Actualizações e pormenores até dia 6. Para já posso dizer que ter um bilhete de avião na mão me faz muito mais feliz.

quinta-feira, julho 20, 2006

have a nice weekend


The Clash, Train in Vain (Stand by Me)

Em caso de neura, limpar a casa e ouvir The Clash. Resulta sempre.

arqueologia*


«Às vezes acho que o corpo devia guardar marcas [visíveis] de todas as coisas importantes que nos tivessem acontecido.»

gelo

Não estão os 35º do fim de semana; no entanto só quero enfiar-me em gelo. (Há um incêndio a devastar tudo em redor - ou é só o cansaço acumulado a fazer-me fechar os olhos?) E enquanto pergunto encontro em mim a resposta e descanso.

quinta-feira, julho 06, 2006

memória

As memórias são coisas estranhas: editamo-las como falsas fotografias em que queremos acreditar, ou deixamo-las latentes e subterrâneas durante muito tempo. Eu, por exemplo, descobri em mim memórias tuas que não sabia que tinha: chegares uma vez debaixo de chuva para me ajudares a escolher uns óculos; ou antes, muito antes (não sabia ainda o teu nome) ver-te desenhar, a mão nunca apoiada no papel, sentado à minha frente nas mesas grandes da biblioteca velha da faculdade.

sexta-feira, junho 30, 2006

fim de semana



De partida para o sopé da Serra: hora marcada entre as oito e meia e a uma da manhã. Uma lista de coisas para levar: a Ilíada ou Ruskin? Saco-cama ou lençóis? (Onde me vais deixar a dormir?) Actividades programadas: futebol, Carcassonne e uma reunião de obra com cinco arquitectos a discutir um muro. De volta segunda-feira.

quarta-feira, junho 21, 2006

solstício, outra vez

o céu a esta hora está azul, escuro; o melhor do solstício é o prolongamento desta cor. lá para oeste a cor é ainda mais clara. já não me lembro do sonho, e talvez não seja preciso: outras coisas como pequenos seixos vão preenchendo os espaços em branco.

terça-feira, junho 20, 2006

rol:

- Cinco lápis: dois têm a assinatura de Miró (um é de grafite e com o outro posso escrever a amarelo, verde, cor-de-rosa e lilás), um a de Picasso; outro é cinza escuro (e pesado), e tem escrito Museu Picasso a preto; o último é um lápis de desenho 6B.
- Um marcador de livros com uma imagem de Dona i Ocelli I, de Miró.
- Um cartaz com uma reprodução de Le Visage de la Paix, de Picasso.
- As Asas do Desejo.

quinta-feira, junho 08, 2006

comment

Há uma fotografia por publicar mas o Blogger não se tem mostrado muito cooperante ultimamente. O título do post deveria ser “no comment” (ou ainda: fui eu que fiz) e seria muito mais simples publicá-la do que juntar palavras para ilustrar o que têm sido os últimos dias. Não vou dizer que nada mudou, porque de certa forma continuo estupefacta com tudo o que tem acontecido. Mas ninguém – olhando de fora – poderia dizer o que mudou, ou mesmo que algo tenha sequer mudado.
O tempo das especulações passou: quando a confirmação é diferida, os murmúrios morrem por si. Por isso, o meu sorriso vive agora a coberto das palavras, e é à recusa de outrora que o devo.

segunda-feira, maio 29, 2006

rol de um dia feliz

- acordar cedo para descer o rio, sol a pino temperado por quedas e rápidos;
- (umas sandálias novas compradas em segredo por uma conspiração de colegas);
- preguiça ao fim da tarde depois de horas de esforço físico;
- uma mensagem tua, doze minutos antes da meia-noite.

terça-feira, maio 16, 2006

É assim que sabemos que estamos vivos: não compreendemos.
Philip Roth, Pastoral Americana

domingo, maio 14, 2006



É claro que aquele grãozinho virulento iria perder aos poucos a potência, iria desvanecer-se, dissolver-se em nada, ou antes, iria transforma-se numaporção de tecido identificável mas inofensiva. Neste momento, porém, bastaria uma ligeira alteração nas partículas que determinam os acontecimentos para que ela se achasse longe dali (...)


Iris Murdoch, O Bom Aprendiz

sexta-feira, maio 12, 2006

Aparentemente nada mudou: só um deslocamento súbito do eixo em torno do qual o mundo gira. Solavanco e tempo de habituação – que continua. Tinha esquecido que as palavras são gestos feitos à distância e lembraste-mo como se devolvesses a minha imagem num espelho.

sábado, abril 22, 2006



Por vezes passa o dia inteiro sem comer. Preocupo-me - o jejum lembra-me o tempo em que brincava com traços brancos sob a pele. Perguntei-lhe se achava que era Sarah Morton. Disse-me que não, sabia perfeitamente quem era. Perguntei-lhe se imaginava que a frugalidade a tornaria capaz de voar. Sorriu. A partir de então, nesses dias, passei a verificar as janelas.

again and again and again

terça-feira, abril 18, 2006

green



Não é de mim nem de agora: a cidade tem uma cor nova, acabada de nascer. É o verde mais primaveril de que me lembro; mas pode ser a memória a enganar-me, depois de um ano de seca. Espero que o próximo fim de semana permita os meus passeios; entretanto vou amanhã ao Algarve e já volto. Até já.

sexta-feira, abril 07, 2006

postal ilustrado

Estou aqui há dois dias, se calhar chego antes deste postal. Mas como estou longe tenho um pretexto para escrever as coisas que não tenho oportunidade de te dizer quando aí estou – e não ter oportunidade de as dizer é já sintoma bastante. A distância ajuda e a síntese a que o tamanho do postal me obriga também. Há uma divisão entre a razão e os afectos que não me deixa ser clara; há desejos a turvarem tudo. Quis agir como se eles não existissem, mas não parece possível; não é fácil gerir o que tem acontecido – se é que se pode considerar a distância um acontecimento. Fica tudo dito no espaço que tenho – que sinto ser cada vez menos – e não espero que me dês resposta. Não espero que faças seja o que for – embora, e que fique bem claro, o deseje profundamente.
Post-scriptum: cortei o cabelo.

sábado, abril 01, 2006

bittersweet

Felizes encontros inesperados:
sinto os olhos manchados do cansaço e da falta de sono. Na véspera tudo em mim era tensão cromática - laranja e azul eléctrico.
Ao afastar-me do primeiro o sorriso deu lugar à incerteza; no segundo o meu silêncio ocupou o lugar do contentamento. «Quando é a nossa opaca presença física a estabelecer o contacto...» Entretanto descubro no espelho que passei alheada a muitos outros encontros inesperados. Dizem-me que tenho os olhos grandes e afinal descubro que só os uso para fitar - ao longe.

segunda-feira, março 27, 2006

ilusão

(do Lat. illusione)
s. f.,
engano dos sentidos ou da inteligência;
errada interpretação de um facto;
pensamento quimérico;
coisa efémera;
utopia;
fantasia;
efeito artístico que produz ou procura produzir a impressão da realidade.

mudaram a cor aos dias

o que significa que vem aí o tempo dos vestidos, o sol enganador a criar quimeras e a fazer crer que tudo, mas tudo, é possível; não me engano, a Primavera tem este hábito de me derrubar sem compaixão. Pode andar escondida em cinzentos que eu conheço-lhe já os truques, sei o que anuncia, e até Setembro ou Outubro andarei seduzida pela efémera beleza das ilusões.

terça-feira, março 14, 2006

domingo, março 12, 2006

Beware the ides of March*



As minhas deambulações levaram-me hoje à rua onde fui, há semanas atrás, ver uma casa. A rua estava calma (é uma rua calma, com árvores, embora estas não atinjam o troço onde se localiza o prédio), pouca gente se via passar. Ao fundo, a Praça das Flores; bem perto, as vendedoras de flores à porta do Prado do Repouso. Com o sol, que devia inundar os quartos virados a Poente, todas as outras coisas recuaram em importância: as obras, o tempo necessário para elas (que não sei quanto possa ser), a idade do prédio. Os dias de sol são perigosos, fazem-nos esquecer as prudências.

*Citação de Júlio César, da crónica de João Bérnard da Costa, no Público de hoje

terça-feira, março 07, 2006

ter razão


(pequeno ensaio sobre a democracia depois de "Good Night, and Good Luck")

O que mais me impressionou no filme não foi a reconstituição milimétrica, a filmagem sempre em set, a saturação de jazz (mas não te preocupes - não era um musical), ou sequer a inteligente utilização das "verdadeiras" imagens televisivas (como se tudo não fosse ficção); nem as múltiplas leituras do filme, desde o medo a condenar direitos que se consideram inalienáveis à derrocada da caixa que mudou o mundo; não foi o olhar de David Strathairn ou a forma como dizia a frase final (e que não consegui perceber se de um pessimismo ou optimismo desesperado); o que mais me impressionou e chocou foi que no fim, até um homem como William Paley, que não abandonou Murrow durante o confronto com o Senador Junior de Winsconsin, se rendeu à força mole do desejo de entretenimento e das audiências. É o que mais me assusta - que a maioria das pessoas acabe então por ter razão.

domingo, fevereiro 26, 2006

:D

Esta semana passou tão rapidamente que não me deixou tempo sequer de vir contar as boas notícias.
As boas notícias têm a ver com um quadro. Não uma tela, nada de físico; é a diferença entre poder estar doente ou não. Entre poder ser dispensada no dia seguinte ou não. E, eventualmente, entre poder ter um empréstimo para a tal casa - ou não. Para todos os efeitos, a partir de Fevereiro sou efectiva na empresa, tenho direito a subsídios de refeição, a horas extraordinárias, a férias. Não tenho que me lembrar todos os meses de pagar a segurança social. Posso deixar os recibos verdes na gaveta. Por tudo o que isso significa - e pelo que diz da forma como o meu trbalho está a ser recebido - o título, ali em cima, justifica-se em absoluto.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

spt


"cotton underware that has been washed a thousand times..."
(Nick Hornby, High Fidelity)

domingo, fevereiro 12, 2006

se calhar tens saudades das magnólias

corners of my home



Não é bem um canto (que em minha casa quase não os há), mas antes um lugar onde a luz cai. Pelo menos agora, que os dias começam a conhecer-se e o sol a passear num ângulo mais alto, e a sala deixa de ter a melancolia das tardes de inverno. Quase não sinto a urgência de encontrar outra casa.

Other corners here

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

uma casa



Procurar uma casa é tarefa demorada; já o sabia e esse desgaste era uma das maiores resistências quando chegava a hora de tomar a decisão. Ainda agora comecei e já questiono a minha persistência: mesmo com todos os filtros do mundo as visitas acabam sempre em grandes desilusões. Só uma me interessou a ponto de ter que apelar a toda a minha racionalidade para não a comprar: era um sexto andar na Rua da Boavista, sem vizinhos e com muito sol. Tinha a cozinha num armário. Outra pela qual quase me apaixonei (e apenas em fotografia): um mezzanino a fazer de quarto, um terraço, uma clarabóia enorme. Era uma casa, casa mesmo, com solo debaixo de mim, não uma fracção. Está reservada e esforço-me por lhe elencar os defeitos: três metros e meio de largura, pouco mais de 50 de área. Ainda sim consigo perceber o que me move: a luz.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

árvores


No caminho para o trabalho há apenas uma magnólia tardia; tenho perdido o fulgor das árvores. Contento-te com as camélias frágeis a enfeitar os topos dos muros e com as manhãs de domingo pelas ruas mais bonitas do Porto, até erguer os olhos e ficar - uma vez mais - assombrada pala estranha beleza das grandes flores brancas nos ramos nus.

domingo, fevereiro 05, 2006

domingo



Luz e sombra, os caminhos de Serralves quase vazios. (Nos ouvidos: Forbidden Colours, Sakamoto). Entre Thomas Hirschhorn e Ignasi Aballí vai um mundo de distância, medido pela quantidade de objectos. Nos jardins reencontro Ângelo de Sousa, e acabo por não fazer a via sacra de Richard Serra para te encontrar à entrada. O resto - é sol.




sexta-feira, fevereiro 03, 2006

hábitos

Apanhada pela Sónia em cinco hábitos estranhos:
- comer massa crua;
- arrumar a louça na banca ANTES de a lavar;
- ficar meia hora na cama antes de me levantar. Isto obriga-me a pôr o despertador um bocado mais cedo do que o absolutamente necessário; para não estar a desligá-lo de nove em nove minutos passei a usar a versão rádio (e a ligar o despertador no telemóvel). O cúmulo disto é que já cheguei a ouvir uma missa quase inteira antes de estender o braço para desligar a coisa;
- escrever um monte de coisas na agenda do género "ir ao supermercado" ou "passar roupa" (a lista de supermercado escrevo-a noutro caderno). Só pode significar que sou ou muito distraída ou muito preguiçosa - depois de ver o ponto anterior, acho que deve ser mesmo preguiça;
- ir para a cama às onze da noite (e no inverno, com uma botija de água quente).

Continua:
Aurelia
Saudades do Futuro
Uma vida por escrever
Livro em Flor
Tricot e tal

domingo, janeiro 29, 2006

hurry up spring warmers



Dizem que está frio lá fora, por isso nem para um café saí: acabei bem depressa as minhas novas mitaines e estou a escrever apenas com as pontas dos dedos de fora. O aquecedor está ligado há horas e mesmo assim está frio. Outra coisa que eu não quero na minha próxima casa: prédios a taparem o sol (e a estragarem-me as fotografias).

sábado, janeiro 28, 2006

house hunt


Já imaginava que a primeira casa que ia ver não seria a última. Estas visitas vão obrigar-me a pensar o que quero de uma casa. Luz; espaço, algum (mais do que o que agora tenho); transportes perto que o carro é sempre uma decisão adiada. Um café, uma padaria, um quiosque nas redondezas. O que não quero: marquises, tijoleira, cilindro. Uma vista para as traseiras de outros prédios; um terraço para o interior de um quarteirão. Não sei se encontrarei a melhor casa (já que a casa dos meus sonhos nem a vou procurar) e espero não me manter eternamente à espera dela; às vezes o melhor nunca chega, é só uma desculpa para não avançar.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

deve haver um sítio onde nascem as decisões



Começo a deitar contas à vida; a imaginar as cores de paredes que nem sei sequer ainda onde são, a pensar em coisas práticas e comezinhas (ou nem tanto): um forno para bolos (ou para os scones da Joana), sofá cama para as visitas, espaço para conversas; o sofá em frente à janela, a televisão pequena a um canto. Luz. Deve haver um sítio onde estas coisas se começam a formar, a mim acontecem-me no escuro, quando ando mais calada, metida comigo mesma; quando me começam a perguntar o que tenho.

terça-feira, janeiro 24, 2006

I do not wish him to great, but merely to be lucky

fui ver o filme do Woody Allen. Irritou-me. A mim não: nem sequer me incomodou a ironia de ver os maus actos bem recompensados. O que se faz não tem por fim a recompensa (seremos porventura focas amestradas?) e o o resto é pouco menos do que caos.

terça-feira, janeiro 17, 2006

«I loved Ophelia, forty thousand brothers
Could not with all their quantity of love
Make up my sum...»

(William Shakespeare's Hamlet, Act V, Scene 1)


Ophelia, de John Everett Millais
Fonte: The Ophelia Page

segunda-feira, janeiro 16, 2006

coffee break


O que eu mais precisava, agora: de um tempo de pausa para respirar fundo, aclarar ideias, tomar decisões. E mantê-las.

terça-feira, janeiro 10, 2006

new year's resolutions


(ou objectivos, ou...)
Não tenho o hábito de fazer resoluções de ano novo, ou sequer de fazer balanços. Quanto aos desejos, estão espalhados por todos os dias. Mas quando vi esta lista pensei em fazer uma para mim: como uma espécie de âncora a coisas mais largas do que as tarefas que me ocupam quotidianamente. Comecei a escrevê-la na primeira página do ano, e é um work in progress: tenho a certeza que riscarei coisas e acrescentarei muitas mais. Coisas para melhorar o ano?

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Um colóquio na CCDR, um telefonema (depois de muita ponderação), Csa da música até fechar e uma despedida com um sorriso: "um bom ano, teresa" - um bom ano.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

domingo, janeiro 01, 2006