É verdade que o que eu queria mesmo era que ele tivesse perdido o avião; mas também não sei se acredito que, mesmo que ele tenha ficado, a história de ambos não se resuma a uma combinação dos fracassos que já experimentaram. (Queria acreditar que não, que não, que não.) Este não acreditar leva-me a outro (Eu não acredito em ti. Já não acredito em ti. Nunca mais.) - eu não acredito são as palavras exactas que uso quando quero quebrar o laço que me prende a ele. Quando deixei de acreditar num futuro possível - e feliz - para nós os dois, talvez alguma coisa se tenha quebrado dentro de mim, talvez tenha sido eu mesma. Talvez seja isso que eu tenha contra os romantismos - aos quais as lágrimas sempre cedem, contra a minha vontade - talvez isso me faça não acreditar em mais nada. (Eu antes tinha um sonho; e agora, o que é que tenho?) Talvez seja isso que me enfureça quando vejo coragem e - sonho - representados assim à minha frente (não esquecer como achei gratuita toda aquela cena de Ernesto a atravessar o rio apesar de tudo, gratuita e insuportavelmente complacente).
Tenho medo de me ter tornado uma pessoa plana e amarga, sem sonhos, crescida demais, incapaz demais, sem rumo.
(ele ligou naquela tarde em que felizmente estava no cinema, o telemóvel desligado, sinto que lhe fujo e nem sei porquê.)
Sem comentários:
Enviar um comentário