segunda-feira, abril 05, 2004

Santidade

Ontem foi Domingo de Ramos.

Penso muitas vezes que a marcação religiosa do calendário é uma espécie de âncora dos dias; uma tentativa de transformar a sua passagem em algo menos vazio. O ano passado, aproveitei a frequência de um curso de fotografia (sim também tirei as minhas silly photos of my feet) para indagar a minha religiosidade. Escolhi mais ou menos propositadamente uma igreja de que não gostava: o que me interessava era não o espaço, mas o sentimento que o habita.
O resultado não foi de forma alguma brilhante - a minha vontade de acreditar não parece ter tido resposta da minha capacidade. Deve ser por isso que lhe chamam mistério da fé. Da experiência resultou uma série a que quis chamar Mónica e a santidade. Tirei-o de um conto de Sophia, Retrato de Mónica, em que se lê:
A poesia é oferecida a cada pessoa uma só vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
Tinham passado anos desde que havia lido este conto. Ontem comprei finalmente os Contos Exemplares e copiei o parágrafo. Não sei se terei falhado completamente a minha tentativa; ou quantas vezes tenho renunciado à santidade nos últimos tempos. Nem sei bem o que é a santidade ou renunciar a ela.

Quanto à série, acabou por ficar sem título. Também talvez não merecesse tal filiação. Houve uma exposição colectiva no final do curso, com direito a noite de inauguração: e essa sim, foi uma noite de promessas. Mas isso é já outra história...

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